segunda-feira, 27 de abril de 2009

Formação de Mediadores de Leitura

Declaração do Seminário Nacional

Nós, participantes do Seminário Nacional “Formação de Mediadores de Leitura”, realizado em São Paulo (capital) nos dias 12 e 13 de março de 2009, solidariamente tecemos idéias, experiências e esforços – entre si e com o MEC-MINC – no sentido de cooperar com o desenvolvimento de iniciativas que, uma vez incorporadas ao PNLL, produzam transformações, para melhor, junto aos agentes envolvidos com a dinamização da cultura letrada, do livro e da leitura em nosso país.

ENTENDEMOS
· o LIVRO não apenas como um objeto ou artefato de leitura para diferentes propósitos, mas como um ente central no universo da cultura e, por isso mesmo, imprescindível ao exercício da cidadania;

· a LEITURA não apenas como um instrumento ou ferramenta, mas como uma experiência construída pelo sujeito na convivência e nas contínuas interações com o livro e outros suportes da escrita;

· o MEDIADOR ou AGENTE DE LEITURA como aquele indivíduo (profissional ou não) capaz de, pelo testemunho de vida e com conhecimento de causa, planejar situações motivadoras e organizar favoravelmente as circunstâncias do meio cultural para que as pessoas possam adentrar o universo dos livros, da leitura e da literatura e dele objetivamente participar;

· uma POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA, que tenha como epicentro o livro e leve em conta os indicadores de leitura do atual contexto brasileiro (com profundas contradições e injustiças no que se refere ao acesso aos bens e serviços culturais), como aquela de natureza interministerial máxima, que foque os múltiplos ambientes sociais (família, escola, biblioteca, hospital, presídio, praça, meio rural, etc), e como aquela que seja contínua no tempo, sempre-presente no passar dos governos, para que possa ser avaliada e incrementada em termos dos seus efeitos junto aos vários segmentos da população.

PROPOMOS QUE
§ as estratégias, experiências e metodologias nacionais já consagradas na esfera da formação de professores, orientadores, mediadores e/ou agentes de leitura sejam identificadas, apoiadas e mais pausadamente analisadas pelo PNLL no sentido de produzir uma síntese propositiva que embase as ações governamentais, principalmente aquela em direção à formação básica e continuada dos responsáveis pela inserção dinâmica e duradoura de outros sujeitos no universo da cultura escrita;

§ nos paradigmas de formação de mediadores de leitura fique explicitamente assentado e proporcionalmente garantido um tempo para que os indivíduos, além de estudar estratégias metodológicas de leitura, possam “ler de verdade” e ter a oportunidade de associar as suas leituras a outros processos culturais;

§ a formação de professores-mediadores para atuar na educação escolarizada seja realizada no horizonte de uma cultura didática mais arejada, prazerosa e envolvente, tendo a literatura como carro-chefe e garantidas as condições para a sua usufruição enquanto linguagem e arte;

§ a literatura infantil, enquanto artesanato de linguagem e instigadora da fantasia, ganhe estatuto e reconhecimento equivalentes ao da literatura adulta; por isso mesmo, a literatura infantil e os autores que a ela se dedicam sejam valorizados em todos os contextos sócio-culturais;

§ exista, daqui para a frente, um equilíbrio objetivo – e proporcional - nos investimentos entre os programas de aquisição e distribuição de livros e os programas de formação de mediadores e de instalação, manutenção e/ou incremento de estruturas de apoio para a promoção da leitura. Sem mediação segura, sem agentes bem formados e sem estruturas adequadas, entre as quais a da biblioteca, os livros se perdem e a leitura se pulveriza, a exemplo do que mostram os indicadores sobre o desempenho em leitura e escrita dos estudantes brasileiros e da população em geral;

§ a leitura de materiais escritos, principalmente a de livros de literatura, seja sempre entendida como uma experiência imprescindível e insubstituível na vida e no trabalho dos mediadores de leitura, principalmente os professores e os bibliotecários. Por isso mesmo, deve-se garantir não apenas condições condignas para a aquisição de livros e a freqüentação a eventos culturais a esses profissionais, como também garantir espaço para que a leitura lhes seja possível durante os seus horários de trabalho, como atividade remunerada e de atualização profissional;

§ o PROLER e todos os programas do MAIS CULTURA –MINC recebam o devido investimento e recursos de apoio para que possam atingir os resultados esperados na direção da conquista de uma sociedade democrática e leitora, associando a atual política do livro a uma política conseqüente de leitura e de usufruição da literatura;

§ o MEC, através de suas agências de apoio, incentive linhas de pesquisas para a investigação na área da leitura e divulgação dos seus resultados de modo que as decisões políticas possam ser fundamentadas em orientações de base científica;

§ as facilidades da Internet sejam devidamente incorporadas às estratégias de incentivo à leitura e escrita, principalmente no que se refere ao trabalho dos mediadores, à amplificação de textos literários e à formação de comunidades de leitores;

§ o PNLL, através de instrumento jurídico específico, continue a existir e a atuar no tempo, independentemente dos governos eleitos, de modo que ganhe a sua legitimidade e a sua institucionalização como o organismo responsável pela política nacional do livro, da leitura e da literatura no território brasileiro.

São Paulo, 13 de março de 2009.

Ezequiel Theodoro da Silva - Relator
ALB – Associação de Leitura do Brasil

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